ISMÁLIA [ISMÁLIA]
"Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar..."
(GUIMARÃES, Alphonsus de. In: Alphonsus de Guimarães -Poesia.
2. ed. Rio de Janeiro, AGIR, 1963. P. 70-1)
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FILOSOFIA DO CARPE DIEM [LÍDIA]
(Usurfruir do momento)
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio,
Sossegadamente fitemos seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
(...)
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
(...)
REIS, Ricardo .OBRA POÉTICA. Rio de Janeiro, Nova Aguilar,1992.
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MAR, MARCELO [MARCELO]
MAR
meu mar
tão céu,
tão meu e seu,
MAR e CÉU:
Marcelo
Por te amar
estou no céu,
sou lua
tão crescente!
Tu és o mar,
és navegantemente
amor nascente.
Mar e céu,
tu e eu!
Ao longe um beijo se perdeu?
(SYLVIA OTHOF, Luana adolescente)
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PA- TRÍ- CIA [PATRÍCIA]
A primeira sílaba
do teu nome
me instiga:
Golpe no ar
estampido.
Na segunda
paira o atrito, o áspero.
Somente na terceira
há trégua
som de friagem
sussurro de água
Antes da imagem
é teu nome
(turbulência e passagem)
a brotar este poema.
(JEOVÁ SANTANA)
Prof. Deptº Letras Universidade Federal de Sergipe
Mestre em Teoria Literária pela UNICAMP
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A RITA [RITA]
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela, meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais:
Levou seu retrato
Seu trapo, seu prato,
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor
De vingança, nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
O violão.
(HOLLANDA, Chico Buarque de. Literatura comentada. São Paulo,
Abril Cultural, 1980)
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NEOLOGISMO [TEODORA]
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
(BANDEIRA, Manuel. In: Poesia completa e prosa.
Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1990. P.281)
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PICILONE [YVONE]
Já reparei outro dia
Que o teu nome , ó Yvone,
Na nova ortografia
Já perdeu o picilone.
(ROSA, Noel, 'PICILONE" 1931, Sátira à reforma ortográfica de 1931)
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