terça-feira, 8 de junho de 2010

FILOSOFIA E ARTE

O filósofo, seja qual for as experiências que disseca - suas, de seus contemporâneos ou da história da sociedade - generaliza-as até o desaparecimento das particularidades da vida individual ou temporal. O artista, pelo contrário, ainda que venha a ter uma visão filosófica da vida e chegue a amplas generalizações, projeta-as como imagens desta que não são, necessariamente, réplicas, ou "imitações" do que vemos a nossa volta; mesmo quando parece sê-lo, como um romance, numa peça ou pintura, sua qualidade artística não está nesta semelhança, mas em seu poder de evocar um complexo de estímulos emocionais, junto a uma "psicologia" bem definida, uma reação palpável ao mundo exterior, um reconhecível estado vital.
Em sentido geral podem-se denominar estes estados vitais de "retratos humanos", com os quais o artista constrói sua arte.
A filosofia e a arte diferem, portanto, não em profundidade ou na qualidade geral de suas maneiras de encarar a vida, mas na forma desenvolvida ao fazê-lo. Uma obra filosófica é apresentada em formas abstraídas da vida real e das condições histórico-sociais que a originaram. Uma obra de arte apresenta-se como a própria vida pulsante que se está analisando. Portanto, quando falamos de semelhanças em filosofia e arte, devemos reconhecer não só o abismo formal que as separa, mas também o terreno comum sobre o qual repousam: o mundo real, partilhado pelo filósofo e pelo artista com todas as pessoas.
Sidney Finkelstein
EXISTENCIALISMO E ALIENAÇÃO NA LITERATURA NORTE-AMERICANA
pgs. 2/3 Ed.Paz e Terra 1969

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